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Foto do escritorJosé Carlos de Assis

Buscando a biografia achei o prontuário de Guedes

por Jose Carlos de Assis*



A acumulação de poderes quase absolutos nas mãos de Paulo Guedes me aguçou a curiosidade sobre a que tipo de pessoa Jair Bolsonaro entregou o destino do Brasil. Só uma vez tive oportunidade de encontrá-lo, há décadas, como debatedor no lançamento de um livro meu sobre os escândalos financeiros da ditadura (não me lembro se "A Chave do Tesouro" ou "Os Mandarins da República"). Já era o típico Chicago boy de uma nota só, sem brilho, obsessivo da redução do Estado e da privatização das estatais. Mas nada sabia sobre o Brasil real.


Como se passou muito tempo desde esse encontro, recorri à Wikipedia para saber o que ele teria feito nos anos seguintes para ganhar tamanho poder e tamanha projeção. É que a grande mídia é absolutamente superficial sobre isso. Então procurei sua biografia. Encontrei um prontuário. Completamente nulo em matéria intelectual – não publicou um único livro em décadas de suposta vida acadêmica -, Guedes é um exímio especulador financeiro que se apresentou na grande mídia nos paramentos de um especialista de mercado.


Não vou pontuar sua vida pessoal de especulador financeiro. Deve-se registrar, porém, que não participou, antes de ser ministro, uma única vez, da vida pública brasileira. Dedicou-se estritamente a ganhar dinheiro e atacar o Estado social. Nessa condição, foi e vai a limites extremos. Guedes abertamente quer reduzir o imposto de renda das empresas e dos ricos, patrocina a privatização de todas as estatais (agora decidiram pôr à venda oito refinarias da Petrobrás) e quer acabar com a Previdência pública mediante o regime de capitalização.


Qual a base política e qual a base moral que Paulo Guedes tem para fazer esse ataque violento ao Estado Nacional? Vejamos o lado moral da questão porque naquele debate de anos atrás, assim como hoje, nós todos concordamos com as teses de que era necessário combater a corrupção no setor público. Mas insisti, porém, que a acusação de corrupção não poderia ser generalizado. E discordei francamente dele quando sustentei a necessidade insubstituível do Estado como eixo promotor do desenvolvimento nacional.


Entretanto, não falarei de Guedes, o incorruptível braço direito de outro incorruptível, Jair Bolsonaro. Eis o que fala dele a Wikipedia, sob o título "Investigação sobre gestão fraudulenta":

"Em 2 de outubro de 2018, o Ministério Público Federal decidiu iniciar uma investigação preliminar acerca de suspeitas de fraude na gestão de fundos de investimentos administrados por Guedes. Desde 2009, esses fundos de investimento receberam aportes no valor de R$ 1 bilhão, oriundos de fundos de pensão de empresas estatais brasileiras (destacando-se os fundos Previ, do Banco do Brasil; Petros, da Petrobrás; Funcef, da Caixa Econômica Federal, e Postalis, dos Correios) que estão sob investigação de forças-tarefa da Polícia Federal, dentre as quais a operação Greenfield, cujo foco são as aplicações na modalidade Fundo de Investimento em Participações, FIP. Segundo o MP, depois de receber os recursos dos fundos de pensão, o Fundo BR Educacional, administrado por Guedes, investiu o dinheiro de seus cotistas em apenas uma empresa, HSM Educacional S.A., controlada por ele. Com os recursos oriundos dos fundos de pensão, a HSM Educacional comprou 100% do capital de outra empresa criada por Paulo Guedes, HSM do Brasil S.A. Chamou a atenção dos investidores o ágio de R$ 16,5 milhões pago pelas ações da HSM do Brasil. Depois disso, a HSM do Brasil S.A. passou a apresentar prejuízos recorrentes. Segundo o Ministério Público, os fundos de pensão de estatais que aplicaram em dois fundos de investimento controlados por Paulo Guedes teriam perdido R$ 200 milhões.

Guedes negou as acusações, dizendo que a denúncia foi feita para confundir eleitor.

Em dezembro de 2018, a pedido do Ministério Público foi instaurado inquérito pela Polícia Federal."


É sintomática a alegação de Guedes segundo a qual a denúncia foi feita para confundir eleitor. Ao que me consta, ele não foi candidato a nada no ano passado. Por que o eleitor se confundiria? Na verdade, estamos diante de uma forte suspeita de corrupção e de assalto a dinheiro público, pois os fundos de estatais são em último caso garantido pelas empresas. E mesmo que fossem apenas privadas não deixa de ser um assalto ao patrimônio do público. Fico imaginando o título de um livro que completaria minha trilogia dos anos 80: O Mandarim do Tesouro – O escândalo da apropriação do Estado por assaltantes neoliberais.



José Carlos de Assis

*Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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