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O V ENCONTRO URBAN SKETCHERS BRASIL, NO RIO DE JANEIRO, 2022.

por Flavio Pessoa


Foto oficial do Encontro 50, no Theatro Municipal, em março de 2017.

Introdução - Coordenando o Urban Sketchers Rio de Janeiro


Como ilustrador e professor de desenho, eu tenho muito orgulho de fazer parte, desde 2017, da coordenação do Urban Sketchers Rio de Janeiro (USK-Rio), um coletivo municipal de desenhistas, profissionais e amadores, que faz parte de uma comunidade internacional de desenhistas: o Urban Sketchers internacional. Junto comigo hoje, na coordenação do grupo carioca, estão os arquitetos Thaís Machado, a fundadora, e Francisco Leocádio, além da designer Marcia Quintela. O grupo, que hoje contabiliza 2700 membros no facebook, e o mesmo número de seguidores no instagram, comemorava há cinco anos a entrada do milésimo sketcher no facebook . Nos reunimos com frequência média quinzenal em diferentes pontos de interesse da cidade, para desenhar juntos e compartilhar esses desenhos. Para os encontros regulares, nunca houve qualquer tipo de cobrança de qualquer taxa [1], nem nunca precisou de inscrição. Não precisa tampouco ter experiência, nem ser desenhista profissional. Basta gostar de praticar o desenho de locação, acompanhar o anúncio dos encontros nas redes e aparecer, levando seu material.


De 2017, para cá, a adesão cada vez maior de novos sketchers fez o grupo aumentar em uma progressão surpreendente. A média de presença nos encontros regulares passou de dez a quinze nos primeiros anos, para vinte a trinta, e muitas vezes, chegamos a quarenta ou cinquenta.


Eventualmente chegamos bem perto de cem participantes, como no encontro de número 50, ocasião em que o imponente Theatro Municipal abriu suas portas para o USK-Rio. Dois meses depois, este , palácio mais importante de nossa cultura ainda recebeu uma exposição com os desenhos originais realizados naquele dia, por sketchers que se espalharam entre o foyer de entrada e a sala de espetáculos. A mostra ficou um mês em cartaz nos expositores, no foyer do balcão nobre. Em 2019, o centésimo encontro aconteceu no Monumento Estácio de Sá, reuniu cerca de 90 pessoas, e os desenhos deste dia também geraram uma exposição no espaço expositivo do monumento. De 2017 para cá, a coordenação do USK-Rio, procurou estabelecer contato com diversos aparelhos culturais da cidade, para além dos espaços abertos.


Entendendo que desenhar uma cidade é também desenhar hábitos e culturas locais, o Urban Sketchers marcou presença no carnaval, desenhando os carros alegóricos em montagem na avenida, no trem do Samba, em espetáculos teatrais, em clubes de futebol e na Pedra do Sal, celebrando o Dia da Consciência Negra, fortes, praias, florestas urbanas. Além do Municipal, desenhamos o Palácio Laranjeiras e os mais diversos centros culturais da cidade. Subimos a favela do Vidigal, durante a Feira Literária das UPPs e saudamos Iemanjá na colônia dos pescadores, em Copacabana. Comemos o pastel com caldo de cana, equilibrando o caderno entre as mãos, na feira da General Glicério, ao som do nosso chorinho tão carioca quanto a roda de samba, seja num botequim histórico na Rua do Senado, seja no Quilombo do Grotão, em Niterói, uma visita memorável regada a samba e feijoada. Percorremos as diversas camadas da história e da cultura de uma cidade múltipla e única, que expressa parte significativa e considerável das riquezas culturais do Brasil.


Foto oficial do segundo encontro do grupo durante o carnaval de 2020, na Presidente vargas, desenhando os carros alegóricos que recebem os últimos ajustes e adereços antes de entrar na Marquês de Sapucaí.

Matéria no Jornal Extra, no carnaval de 2020. Os coordenadores foram convidados a desenhar no barracão da Império da Tijuca, no carnaval de 2020.

O que é o Urban Sketchers e como surgiu


Mas o que seria exatamente este Urban Sketchers e por que o nome em inglês? Sketch é um registro ágil (em comparação com a pintura a óleo ou acrílica). É um croquis, que pode ser feito com qualquer material: lápis, caneta nanquim, hidrográfica ou esferográfica, marcadores, aquarela, gouache ou até mesmo um tablet. O termo “urban”, que dispensa tradução, refere-se à peculiaridade de se tratar de desenhos de rua, como forma de diferenciar de outras práticas de desenho de observação como modelo-vivo ou natureza morta. Mas o conceito de urbanidade aqui se estende para incluir espaços internos de aparelhos públicos, e também registros mais fechados, de pessoas e utensílios urbanos.

Dito isso, vamos às origens do Urban Sketchers. Começou assim: Gabriel Campanario, jornalista e ilustrador espanhol residente em Seattle, começou a perceber que havia um número cada vez maior de desenhos de locação compartilhados na internet, expondo uma infinidade de olhares sobre suas respectivas cidades. Foi então que ele decidiu criar, em 2008, o blog Urban Sketchers, com o intuito de estimular a prática do desenho de locação, e através do desenho, conectar pessoas e fazer circular essa diversidade de registros gráficos. A partir do sucesso do blog, o Urban Sketchers se tornou uma organização sem fins lucrativos, e passou a organizar simpósios internacionais. Hoje o Urban Sketchers está presente em mais de 60 países, espalhados por todos os continentes do mundo, em 336 cidades, reunindo mais de 120 mil sketchers em todo o planeta [2].



O Urban Sketchers no Brasil


O Urban Sketchers Brasil foi fundado em 2011, por Eduardo Bajzek, João Pinheiro e Juliana Russo. Em 2014, a cidade histórica de Paraty foi sede do V Simpósio internacional da comunidade e a coordenação nacional percebeu que era o momento de passar a termos encontros nacionais, uma vez por ano, em diferentes cidades do país. O primeiro, em 2016, foi em Curitiba, uma das primeiras cidades brasileiras a contar com um grupo. No ano seguinte foi a vez de São Paulo em 2018, coube à cidade de Salvador receber o evento. O último, em 2019 foi em Ouro Preto e neste mesmo ano, e nesta mesma edição do evento, a nossa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi anunciada como a cidade escolhida entre os membros, com 80 % dos votos sobre a candidatura concorrente, para sediar o evento no ano seguinte, ocasião em que deveria acontecer também na cidade, o Congresso Internacional de Arquitetura. Além disso, a nossa cidade maravilhosa havia sido escolhida a capital Mundial da Arquitetura daquele ano. Mas a pandemia nos levou a adiar o evento por duas vezes, por dois anos consecutivos. Mas finalmente este ano, poderemos realizar o nosso encontro, entre os dias 16 e 19 de junho, para o qual já temos mais de duzentos inscritos[3]. Entre 2019 e 2021, o designer e ilustrador Simon Taylor, então coordenador do USK Brasil editou a série de livros digitais e gratuitos Sketchers do Brasil, reunindo mais de 300 sketchers de mais de vinte cidades, de norte a sul do país. Essa série de livros será especialmente homenageada na exposição que inaugura quinta-feira, dia 09, no IAB e se estende até o final do Encontro Nacional.


Foto oficial da última edição do USK Brasil, em 2019, em Ouro Preto.

A dinâmica dos encontros


Serão encontros de manhã, de tarde e até de noite, com o nossos já tradicionais “sketch-drinks”. No primeiro dia vamos desenhar nos Jardins do Palácio do Catete, e no próprio Institutos de Arquitetos do Brasil, que receberá a exposição do USK nacional e a nossa solenidade de abertura. No dia seguinte será o dia do centro da cidade. Vamos para a Praça XV, Praça Mauá e fecharemos a noite no Largo da Prainha e Pedra do Sal, na Praia Vermelha. No sábado, vamos às raízes da nossa história na Praia Vermelha e na Urca e, fechando com chave de ouro, no bicentenário Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Cada encontro costuma durar de 3 a 4 horas, quando ao fim de cada turno, fazemos a foto oficial, onde por tradição, todos apontam seus desenhos para a câmera como forma de criar um elemento identificador do grupo em uma foto coletiva. Em seguida, todos deitam no chão os desenhos realizados, improvisando o que passamos informalmente a chamar de “exposichão”. Um momento único de troca de experiências. Diante dos nossos olhos começa a surgir uma quantidade inimaginável de registros, nos mais variados pontos de vista, nas mais diversas técnicas e materiais, um leque infinito de possibilidades e visões em torno de um tema em comum. Por fim, chega a hora dos sorteios de brindes oferecidos pelos nossos apoiadores, importantes fornecedores de material e uma editora especializada. São dezenas de kits de material de desenho, mostras de papéis, blocos e cadernos, tintas, canetas, pincéis, godés, e livros sobre o tema do desenho de observação e a prática de urban sketching.


“Exposichão”, no encontro na Fiocruz, 2020.

E como muita gente chega de fora alguns dias antes do encontro, preparamos também uma programação para esquentar, de segunda, dia 13 a quarta, dia 15, que são os sketch-walk, em que vamos seguindo um roteiro turístico e desenhando ao longo do caminho. na programação teremos o Rio moderno do MAM à Cinelândia, a mundialmente famosa praia de Copacabana, do Leme ao forte e Santa Teresa e Lapa, bairros artístico e boêmio, que todo mundo que vem de fora faz questão de conhecer. No dia da cerimônia, teremos ainda, uma roda de conversa com autores de livros sobre a prática do urban sketchers, que será transmitido online pelos canais do grupo, e logo em seguida, uma palestra sobre produção de papéis artesanais.


Será uma semana de intensa integração entre desenho e cidade. Serão centenas de desenhistas registrando essa maravilha de cenário, uma diversidade natural, cultural e arquitetônica, em diversos pontos de interesse histórico. Esta cidade tão desenhada e fotografada ao longo de seus mais de 450 anos de história, talvez nunca tenha passado uma experiência como essa. Um mergulho intensivo de desenhistas nessa cidade musical que é o nosso querido Rio de Janeiro, cidade-mulher, cidade maravilhosa, purgatório da beleza e do caos. A cidade mais cantada e encantada do país.

Gosta de desenhar? Teremos o maior prazer em recebê-los nesses dias. As inscrições do Kit Estudante, o único ainda disponível, dão direito a certificado e a participar dos sorteios, além da entrada gratuita no Jardim Botânico, mas não são obrigatórias. Não importa se não tem experiência, importa que compartilhe com a gente o prazer do desenho na rua. Temos certeza que será um evento que deixará saudades e ótimas lembranças a quem vivenciar essa experiência.



Sketchs

Flavio Pessoa, Praia do Leme.

Pão de açúcar, Francisco Leocádio.

Arcos da Lapa, Thaís Machado.

Fiocruz, Marcia Quintela.

[1] Apenas os grandes encontros regionais, nacionais e internacionais, costuma haver cobrança de taxas que ajudam a custear o evento e os kits de materiais produzidos por nossos apoiadores, comprados pelos inscritos.

[2] (https://urbansketchers.org/where-we-sketch/), acessado em 07 de junho de 2022.

[3] Por questões logísticas, a inscrição pela internet teve que ser encerrada com uma antecedência mínima para o encontro, mas vamos abrir inscrições no dia da cerimônia de abertura, dia 16, apenas do KIT Estudante, que dá direito a participar dos sorteios de brindes.



Flavio Pessoa é formado em design gráfico, ilustrador do ramo editorial. Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV, da Escola de Belas Artes (2021), onde defendeu a tese "Jeca-Tatu a rigor: Representações do povo na Careta e n’O Malho: identidade nacional na Primeira República (1902-1929)." É mestre em História Comparada pelo PPGHC, IFCS (2013) com tese sobre as charges de futebol de Lorenzo Molas e Henfil para o Jornal dos Sports. Em 2001 concluiu a especialização em história da arte e da arquitetura no Brasil, pela PUC, com monografia sobre o ilustrador Roberto Rodrigues

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Deixa Falar: Criação e Edição de Raul Milliet Filho

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