por Raul Milliet Filho*
Em qualquer dicionário, o significado da palavra fatalidade é claro: destino que não se pode evitar; fatalismo.
O novo presidente do Flamengo, Rodolfo Landim cunhou como fatalidade a morte dos dez garotos das divisões de base do clube.
Qualquer um que frequentasse o Ninho do Urubu, localizado em Vargem Grande, no Rio de Janeiro, sabia, via, constatava a precariedade dos containers onde dormiam ou melhor, residiam os garotos da base do Flamengo. A prefeitura do Rio de Janeiro multou o clube da Gávea 31 vezes e junto com o Corpo de Bombeiros nunca concedeu alvará para que aquelas “latas de sardinha” pudessem ser utilizadas como moradia de atletas em formação.
Não posso crer que o ex-presidente de dois mandatos Bandeira de Mello e o atual Rodolfo Landim, ex-consultor de Eike Batista, não tivessem conhecimento da precariedade daqueles pseudo alojamentos. A maior torcida do Brasil, a nação rubro-negra não merece isso por toda sua história de dedicação ao clube de Zizinho, Dida, Zico e tantos outros. A massa flamenguista não quer que este crime termine em pizza. E o mais acintoso, para quem conhece o local, o que certamente inclui Bandeira de Mello e Landim é que ao lado dos containers precários, pouco mais de 100m a frente fica a concentração 5 estrelas dos atletas profissionais do futebol da Gávea. Retrato típico do Brasil. O luxo e a riqueza contrastando com a pobreza indigente.
Não me surpreendi vendo o assunto, paulatinamente ir sumindo do noticiário.
Quando se fala da FLA-PRESS comete-se uma injustiça pois não são os profissionais de imprensa que escondem esses fatos. São ordens de cima que os repórteres e colunistas obedecem para não perder o emprego; é o mesmo esquema que concentra a maior parte das verbas de transmissão dos jogos via TV nas mãos de Flamengo e Corinthians. Jogo de cartas marcadas. FATALIDADE É O ESCAMBAU.
Está evidente que a tragédia que abateu o clube mais popular do Brasil tem endereço jurídico certo. Homicídio culposo ou dolo eventual.
Dolo eventual é um tipo de crime que ocorre quando o agente, mesmo sem querer efetivamente o resultado, assume o risco de o produzir. Já ohomicídio culposo ocorre quando uma pessoa tira a vida de outra sem a intenção por negligência, imprudência ou imperícia.
Com a palavra os magistrados.
O resto é conversa fiada e como o Deixa Falar não tem medo de bola dividida não vai deixar de botar a boca no mundo.
E mais uma vez: FATALIDADE É O ESCAMBAU.
*Raul Milliet Filho é criador e editor responsável deste site, mestre em História Política pela UERJ, doutor em História Social pela USP. Como professor, pesquisador e autor prioriza a cultura popular. Gestor de políticas sociais, idealizou e coordenou o Recriança, projeto de democratização esportiva para crianças e jovens. Autor de “Vida que segue: João Saldanha e as copas de 1966 e 1970” e do artigo “Eric Hobsbawm e o futebol”, dentre outros. Dirigiu os documentários: “Quem não faz, leva: as máximas e expressões do futebol brasileiro” e “A mulher no esporte brasileiro”.
Comentarios