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Diminuir e ironizar Bolsonaro não é a melhor saída. Recorrendo mais uma vez a Gramsci

Atualizado: 28 de jan. de 2021

Por Raul Milliet Filho


Antonio Gramsci

“A tendência a diminuir o adversário: por si mesma, é um documento da inferioridade de quem se deixa possuir por ela. Com efeito, tende-se a diminuir raivosamente o adversário para crer que se pode vencê-lo seguramente. ... Um elemento desta tendência é de natureza opiácea: com efeito, é próprio dos fracos abandonarem-se às quimeras, sonhar de olhos abertos que os próprios desejos são a realidade, que tudo se desenrola segundo os desejos. Por isto se vê, por uma parte, a incapacidade, a estupidez, a barbárie, a pusilanimidade, etc, e, por outra, os mais altos dotes de caráter e inteligência: a luta não comporta hesitação e já parece quase vitoriosa, mas permanece sonhada e vencida em sonho. Um outro aspecto desta tendência é ver as coisas como numa oleografia, nos momentos culminantes de alto caráter épico.


Na realidade, seja onde for que se comece a operar, logo surgem, graves, as dificuldades, porque não se havia nunca pensado concretamente nelas.; e, como é preciso sempre começar de pequenas coisas (em geral as grandes coisas são um conjunto de pequenas coisas), a “pequena coisa” é desprezada; é melhor continuar a sonhar e adiar a ação para o momento da “grande coisa”... (Antonio Gramsci. Cadernos do Cárcere, Vol. 4. Páginas 61 e 62.)


Não se trata de desconhecer as limitações intelectuais do presidente eleito e seus ministros. As lambanças ocorridas são públicas e notórias, mas é sempre positivo ficarmos atentos a um personagem histórico, filósofo e intelectual orgânico, da estatura de Antonio Gramsci. “A tendência a diminuir o adversário ... é um documento da inferioridade de quem se deixa possuir por ela” o filósofo sardo, sempre preciso, mesclava embasamento teórico e experiência política.

Não enxergar que Bolsonaro e a sua equipe têm um largo respaldo de pelo menos 80% do PIB brasileiro, das classes dominantes e hegemônicas nacionais é incorrer num equívoco de avaliação perigoso, que pode levar a um voluntarismo infantil e estratégias políticas equivocadas.


A formação de uma frente ampla e sólida, reunindo o campo democrático e progressista da sociedade, tal como foi costurada durante a ditadura civil-militar impõe-se na atual conjuntura.  É necessário reconhecer que o pensamento de direita alcançou a hegemonia em nosso país.


 

*Raul Milliet Filho é doutor em História pela USP, professor, pesquisador, especialista em políticas sociais na área pública e editor responsável e criador do “Deixa Falar : Megafone da Cultura”.

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