(* 01/01/1928 | +11/08/2019)
Por Silvina Julia Fernández, professora da UFF
“A Escola Joaquim Manoel de Macedo, desde meados dos 1960 até meados dos 1980, caracterizou-se por desenvolver um projeto escolar alternativo que perdurou ao longo de toda a ditadura (!), até os anos de retorno à democracia, quando Regina Yolanda, finalmente, aposentou-se. Ela começou seu trabalho nessa escola como professora de Jardim de Infantes, logo, passou a ser orientadora pedagógica. Foi ali que percebeu seu desejo de ser diretora, acreditando que desde esse lugar poderia ter mais chances de transformar a escola para chegar mais perto dos desejos e interesses das crianças. Era preciso aproximar-se o mais perto possível do seu mundo cotidiano para, desta forma, convidá-los a querer conhecer tantos outros mundos. Era preciso alfabetizar não somente lendo e escrevendo, senão acordando a criatividade, a curiosidade, os múltiplos desejos de conhecer, de fazer, de compartilhar... que se encontravam vivos naquelas crianças e que a escola teimava em afastar, silenciar, até reprimir. Era preciso, assim mesmo, demonstrar a essas crianças que eles eram valiosos, únicos, dignos da melhor escola, de todo o carinho e o respeito, de todo o reconhecimento social. (...) Nenhum detalhe poderia ser descuidado: desde a limpeza do banheiro, que começou a ‘brilhar’ com outra dignidade; os afazeres da cozinha, que mudavam certas rotinas não sem certas resistências, para melhorar a qualidade da alimentação das crianças (...). Aos poucos a escola foi mudando o aspecto. Foi preciso combinar certa firmeza com um profuso diálogo, também paciente e insistente. Fez-se necessário um espaço que pudesse significar uma formação reflexiva e continuada das professoras. Assim, às sextas-feiras conseguiu tomar forma um seminário, onde planificar e avaliar permanentemente as práticas, em forma coletiva.
(...)Apesar das críticas e também graças a elas, o cotidiano da escola foi mudando, ganhando pertinências e novos sentidos. O currículo passou a ser organizado por atividades, seguindo o princípio de integrar a escola e a comunidade. Começou a ser construído coletivamente um novo projeto pedagógico para a escola: o “Currículo Pleno” da Joaquim de Macedo. (...) Assim, em resposta a uma visão de mundo que os predestina ao fracasso e a um mundo reduzido e empobrecido, Regina Yolanda não se cansou em tentar levar a eles, o que eles mereciam: o melhor, em todos os sentidos.
(...)Tentar fazer e dar o melhor... contagiar, mobilizar e assumir o compromisso, nada fácil por certo, de torcer alguns “destinos sociais” dos que, muitas vezes, acabamos sendo cúmplices. À distância, acho que Regina, de alguma forma, conseguiu desfazer a apatia que marcava o espaço desta escola como um lugar pouco habitável pelos desejos de cada uma de suas crianças, professoras, pais e funcionários. Nesses momentos, outra escola foi possível na ilha de Paquetá...”
Nota do editor: A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) publicou em seu site um breve currículo de Regina Yolanda, que faz justiça a toda trajetória desta grande educadora, progressista, lutadora constante pela justiça social.
Regina teve com seu companheiro Aristides Saldanha, os filhos Paula, Gaspar e Claudia.
Diz a nota da FNLIJ:
"Participou da FNLIJ desde os seus primórdios.
Em 1973, fez parte do então Conselho Superior da FNLIJ, e depois, em 1986.
Indicada pela FNLIJ, em 1976, foi eleita para o Comitê Executivo do IBBY.
Esteve também no Conselho Consultivo da FNLIJ, de 1992 a 1998.
Representou a FNLIJ no júri da Bienal de Bratislava de 1973, participado da BIB durante muitas edições.
Foi a grande incentivadora da participação de ilustradores brasileiros em eventos internacionais.
O livro infantil e juvenil brasileiro: bibliografia de ilustradores, de sua autoria, foi um trabalho pioneiro, publicado pela editora Melhoramentos, em 1977.
Para a exposição de ilustradores da Feira de Bolonha de 1995, quando o Brasil foi o país homenageado, Regina atuou como consultora e assinou, junto com Laura Sandroni o texto Palavra e Imagem para o catálogo Brazil! A bright blend of colours, organizado pela FNLIJ.
No 16º Salão, em 2014, a FNLIJ prestou uma homenagem à Regina por seu importante trabalho de valorização da ilustração nos livros para crianças e jovens, no Brasil.
A contribuição de Regina como educadora comprometida com a formação de pessoas, marcou a vida não só dos seus alunos diretos, como também de professores que trabalharam sob sua direção e de muitos pais e artistas que tiveram o privilégio de conviver com ela.
Que o seu legado se perpetue para novas gerações de professores e educadores comprometidos com a formação de leitores considerando, como ela dizia, o livro como um objeto portador de várias artes."
Por fim, uma nota bonita, emotiva e profunda de sua sobrinha neta Luciana Saldanha (Nana)
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