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O CAPITÃO AHAB é o Brasil-PEQUOD

Atualizado: 7 de abr. de 2020

por Luiz Antonio Aguiar


Quem já leu Moby Dick? É uma obra grandiosa e o personagem que mais me fascina e aterroriza é o Capitão Ahab, que comanda o navio Pequod. Ahab, movido pelo ódio (Moby Dick, num confronto anterior ao livro, havia decepado sua perna), e pelo sentido de vingança, que o inebria, lança sua tripulação na caça à Baleia Branca legendária. Todos a bordo prevêem a tragédia já que uma jornada dessa, afrontando o perigo, uma força da natureza potentíssima, conduzida pela insanidade e pela ira, não poderia acabar bem. E a tragédia realmente é o desfecho da história. Hoje, lendo no jornal que o Bolsonaro e o Gabinete do Ódio preparam uma campanha para incentivar as pessoas a romperem o isolamento, não posso deixar de pensar em Ahab. Na sombra da morte anunciada, da catástrofe, que o acompanha, toda vez que surge em cena. Nossa situação é a mesma da tripulação do Pequod. O Brasil hoje é o Pequod! Por isso, a Literatura é preciosa. Ela devassa e desvenda a alma humana e mesmo o destino, ainda quando fala de coisas distantes no tempo e no lugar (como prescreveu Machado). A tripulação do Pequod sucumbiu à presença maligna e opressora de Ahab. Ninguém reagiu, ninguém cogitou em afastá-lo do comando do navio, ainda quando o desastre era evidente, iminente. Estamos no Brasil-Pequod, com um capitão movido pelo ódio. Bolsonaro não vai recuar. Sua índole o leva a seguir em linha reta, mesmo que seja para o abismo, mas jamais contrariar sua egolatria. Jamais considerar o posição da opinião pública, dos médicos, cientistas, da OMS, os exemplos internacionais, nem a vida de ninguém. Só o que importa é sua revanche. O que o move é o ódio insanável. É algo que arde dentro dele e que o leva a radicalizar cada vez mais, e mais e mais, a cada tentativa de freá-lo, e jamais repensar, jamais fazer autocrítica. Desculpem o spoiler, que na verdade não estraga nada do drama monumental do romance. Exceto o marinheiro que nos conta a história, não houve sobreviventes do Pequod.


Luiz Antonio Aguiar é escritor, com mais de 160 livros publicados, premiado no Brasil e no exterior, como em seu livro Sonhos em Amarelo, publicado pela Melhoramentos. É mestre em Literatura Brasileira, especializado nos romances clássicos nacionais e estrangeiros, particularmente Machado de Assis, sobre quem tem vários livros publicados. Escreveu uma adapatação de Moby Dick, publicada pela FTD. É professor de Literatura e de escrita literária, na Cátedra de Leitura Unesco-PUC/Rj. Tem ensaios informais sobre temas literários, no BLOG DO LUIZ ANTONIO AGUIAR, na aba Fora de Ordem. Nasceu em 1955, mora no Rio de Janeiro.




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