por Raul Milliet Filho
O Sérgio Cabral, pai, sempre foi uma pessoa de primeira linha. Um cara porreta e muito talentoso. Não vou nem comentar a sua tristeza frente ao comportamento do filho, o Serginho. Ele e a Magali, sua companheira de toda uma vida, enfrentaram com toda galhardia a postura aética do filho. Tive oportunidade de me aproximar do Sérgio várias vezes na minha vida. Agora, vendo tantas pessoas escreverem sobre ele, como a querida amiga Yacy Nunes, resolvi esperar um pouco para dar o meu recado.
Em duas ocasiões o querido Serjão esteve próximo, muito próximo. Quando foi Secretário de Esportes e Lazer da Prefeitura do Rio de Janeiro na gestão do Saturnino Braga, articulamos a parceria em torno do programa RECRIANÇA. Eu era Secretário de Assistência Social no Ministério da Previdência e idealizador do projeto. O RECRIANÇA foi, e ainda é, um programa de educação informal estimulando atividades esportivas, alimentação, trabalho e atividades culturais visando atender prioritariamente crianças e jovens (7 a 16 anos), de baixa renda proporcionando atividades durante cinco dias na semana.
O Ministério da Previdência repassava os recursos para as prefeituras que eram responsáveis por executar o programa. Tive oportunidade de criar, idealizar, dirigir e gerenciar esse programa em todo o país e além das crianças e jovens atendidos, abriu 11.287 empregos.
Foi um grande trabalho que em todo o país ultrapassou o número de 400 mil crianças e jovens atendidos. É sempre bom lembrar que partimos da mesma filosofia de trabalho que viria a ser utilizada na Constituinte de 1988: o SUS, uma política na qual União, Estados e Municípios atuavam de forma integrada procurando sempre que possível uma sinergia de esforços. Deu certo. Curitiba, Olinda, Caruaru e Rio de Janeiro foram as cidades nas quais o RECRIANÇA funcionou melhor.
No Rio de Janeiro foi um belo projeto. Tudo isso começou em julho de 1986 e quem ajudou muito foi o meu querido tio, João Saldanha, irmão de minha mãe, Elza Saldanha Milliet. No lançamento do programa lá estavam tio João e Sérgio Cabral. Dois amigos de longa data.
Vejam a Crônica do tio João:
Com alegria apresentamos uma fala do Sérgio sobre o tema:
Organizei e escrevi boa parte do livro Vida que Segue: João Saldanha e as Copas de 1966 e 1970. Era uma dívida de afeto minha com meu querido tio João. Vejam só três craques prefaciaram o "Vida que Segue": Oscar Niemeyer, Sérgio Cabral pai e Tostão. O lançamento foi na Biblioteca Nacional. Como alguns jornalistas amigos chegaram a anunciar o meu falecimento e a família é grande, superlotou o simpático auditório da Biblioteca Nacional. Também não é para menos, eu estava em estado de coma e fiquei internado seis meses com síndrome de Guillain-Barré. A bola bateu na trave mas não entrou.
Minha querida filha, Joana Milliet, filmou tudo isso. Não posso deixar de mencionar a presença do meu neto Vicente e do meu genro Carlos, todos presentes ao lançamento e ao dia a dia hospitalar e Joana ainda amamentando o Vicente.
Raul Milliet Filho é Historiador, criador e editor responsável deste blog, mestre em História Política pela UERJ, doutor em História Social pela USP. Como professor, pesquisador e autor prioriza a cultura popular. Gestor de políticas sociais, idealizou e coordenou o Recriança, projeto de democratização esportiva para crianças e jovens. Autor de “Vida que segue: João Saldanha e as copas de 1966 e 1970” e do artigo “Eric Hobsbawm e o futebol”, dentre outros. Dirigiu os documentários: “Quem não faz, leva: as máximas e expressões do futebol brasileiro” e “A mulher no esporte brasileiro”.
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